segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Petraglia inocentado!

O tempo é senhor da razão?
Parece que sim!
1997 foi rodeado por problemas extracampo para o Atlético Paranaense. “Rebaixado” de forma injusta, todos os jornais apontavam para o Atlético e Corinthians como manipuladores de resultados, além claro, do presidente Atleticano na época Mario Celso Petraglia e Dualib do Corinthians.

Luiz Zveiter, Iven Mendes, Dualib, nomes que eram figurinhas carimbadas na mídia nacional. Mas entre tantos nomes, os únicos punidos foram o Atlético Paranaense e Mario Celso Petraglia. 

Após uma mobilização monstruosa e realmente Atleticana que reuniu todo Estado do Paraná, houve uma reversão na punição ao Atlético, que acabou não sendo rebaixado, mas iniciou o campeonato de 1997 com -5 pontos na tabela. Enquanto isso Petraglia era banido do futebol, o Fluminense salvo da segunda divisão e os verdadeiros culpados isentos de toda a culpa.

Acontece que a maracutaia foi revelada somente agora, 20 anos depois.

Não é novidade alguma que por trás de tudo haviam interesses da Globo e do Fluminense, então, armou-se um circo de corrupção para salvar os cariocas da segunda divisão do brasileiro de 1997. Explica-se: Roberto Marinho, o então proprietário da Globo, era torcedor fanático do Fluminense, portanto a ligação entre as partes não era coincidência.  

O jornalista Marcelo Rezende que na época era repórter da Globo e "investigou" o caso, denunciou em seu livro “Corta Pra Mim”, o esquema planejado e posto em prática para derrubar o Atlético Paranaense e Mario Celso Petraglia beneficiando assim o Fluminense. 

Mas porque o Atlético? 

No ano anterior 1996, Mario Celso Petraglia havia batido de frente com a Globo na questão dos valores oferecidos pela TV para transmissão do Jogo contra o Atlético–MG pelas quartas de final do Brasileirão. Não concordando com a distribuição estabelecida pela Rede, Petraglia ameaçou cortar os cabos de transmissão. A ameaça fez com que o pessoal da Rede Globo deixasse o estádio enraivecidos. Para a época um golpe duro, afinal jamais alguém havia batido de frente e enfrentado a Rede Globo com tanto fervor e austeridade. 

Petraglia ainda teria dito: "Por migalhas o Atlético jamais se venderá!" E não se vendeu. Esse foi o pontapé inicial para a fórmula de distribuição de cotas de TV que temos hoje, que com o tempo defasou. A Globo não gostou e tornou MCP um desafeto. 

Abaixo o capítulo 7 do livro de Marcelo Rezende – Corta Pra Mim. O livro ainda contém revelações bombásticas sobre o jornalismo brasileiro. Em especial divulgarei apenas o trecho que cita Petraglia e o Atlético Paranaense.
 
O vendedor de juízes (por Marcelo Rezende)
“O silêncio é sempre mais ameaçador do que os gritos. ”

Couro ainda estava comendo com o negócio da Favela Naval. Um dia, no meio disso tudo, meu telefone tocou:


 – E aí, Marcelão? Eu tenho para você um material do cacete!
Era outra fonte minha.
– Eu já tenho, você não está vendo o rolo todo da Favela Naval aí na televisão?
– Não é isso. Eu tenho uns grampos telefônicos, mostrando como a Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol, da CBF, se vende.
– Rapaz, eu estou metido num rolo monstro, não me arruma mais problema.
– Marcelão, eu estou indo a São Paulo agora para te entregar as fitas.
– Então, vem!
Fui almoçar com meu camarada no aeroporto de Congonhas e recebi o material lá mesmo.
Umas 15 fitas cassetes com grampos telefônicos envolvendo dirigentes do futebol brasileiro.
De lá, fui direto para a Globo:

– Olha, pessoal, acho que eu tenho outro problema.
– Que problema?
– Acho que nessa comissão de arbitragem da CBF tem ladrão.
– O que é que isso tem a ver com Diadema?
– Eu também não sei, mas recebi esses grampos telefônicos de uma fonte que jamais falha.
– Pelo amor de Deus! Outro rolo! – disse Amauri Soares, babando de alegria.
– Mas fiquem tranquilos, porque eu não quero mais me meter nesse negócio.

Eu sempre faço assim: solto o torpedo e que se dane, vou seguir para outra coisa. O ideal é isso mesmo: soltar, deixar o rolo correr e fazer outra coisa. Não se pode estar no foco permanentemente. E, assim, saí do caso da Favela Naval.

– Eu vou me isolar. Vocês me acham pelo telefone e eu conto para vocês como é que está isso.


Fui para o Rio de Janeiro autorizado pelo chefão da CGJ, Evandro Carlos de Andrade.
Passei uns cinco dias isolado no meu apartamento carioca, ouvindo os diálogos gravados nos grampos. Escutei, escutei, escutei e percebi o seguinte: nessas conversas, basicamente estavam o Ivens Mendes, então presidente da Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf), o Mário Celso Petraglia, presidente do Atlético Paranaense, o Alberto Dualib, presidente do Corinthians, e o Mustafá Contursi, do Palmeiras.
O esquema era simples: Ivens recebia o dinheiro e escalava alguém da confiança do dirigente-pagador. Simples assim. Se os juízes se venderam? Nem investigado foi.
“Mas isso é uma roubalheira só, um suborno só!”, pensei. O Ivens Mendes queria se eleger deputado, então, estava pegando dinheiro dos times de futebol para bancar a campanha, e em troca prometia benefícios. Ele levava o dinheiro recebido para uma região chamada Pontal do Triângulo Mineiro, zona ali perto de São José do Rio Preto, uma das pontas do Estado de São Paulo.

Eu tinha que fazer uma confrontação de vozes, para saber se elas correspondiam mesmo às pessoas que estavam falando.

Fui à TV Globo e peguei algumas entrevistas com as vozes das pessoas que, supostamente, eram as que estavam na gravação. Levei para o laboratório do meu amigo e um dos peritos mais renomados do Brasil, professor Ricardo Molina. Ele usou um espectógrafo, aparelho que dá o timbre certo da voz, como se fosse uma comparação da impressão digital – voz é como impressão digital, não existem duas iguais no mundo.

– São eles. São as mesmas pessoas falando.

Meu Pai Eterno! Mais esse pepino… E o caso da Favela Naval correndo solto. Chamei o Robinson Cerantula, o mesmo produtor de Diadema, e pedi:
– Se manda para o Pontal Mineiro.

Ele foi e começou a levantar as informações. Eu fiquei quieto, esperando. Já estava com a cabeça cansada de Diadema, e agora, então, com aquela “fitaria” toda… Aí o Robinson ligou:
– Marcelão!
– O que houve?
– Está tudo certinho! O homem está comprando tudo aqui. Já montou uns três campos de futebol nas cidades com esse dinheiro. Tem faixa dele em tudo quanto é canto.

O homem era Ivens Mendes, diretor de futebol da CBF. Robinson se fez passar por agente de uma empresa de futebol, e aí os caras, querendo mais dinheiro, foram abrindo a história.
– Estou indo te encontrar.
Peguei um avião, e o Robinson já estava me esperando.

– Vamos gravar! A casa dele já caiu! – Eu disse, ao mesmo tempo que pensei: “Quando esse monte de gente olhar para minha cara, vai parar a cidade, que é pequenininha”.
– Pô, os caras vão te reconhecer – comentou o Robinson.
– Não vão.

A coisa mais comum que acontece com o ser humano, quando chega num nível melhor, é raramente olhar para as pessoas mais simples. Só olha quando precisa.
– Então, nós vamos fazer o seguinte: eu vou de motorista. Você não vai me pedir nem “por favor”. Vai dizer: “vá para tal lugar, vá para tal lugar” e eu vou meter um boné e uns óculos.
Os caras não vão nem me olhar porque estarão de olho no dinheiro que você diz que tem.

Esse truque eu usaria anos depois para filmar e apresentar ao público a mansão que Eurico Miranda, ex-deputado federal e ex-presidente do clube de futebol Vasco da Gama, tinha comprado nos Estados Unidos.

Foi dito e feito. Eu, dirigindo um carro grande, e o Robinson de agente de empresa de material esportivo. Os prefeitos entravam no carro e contavam tudo, e eu, só de motorista, quietinho. E eles falavam de Ivens Mendes para cá, Ivens Mendes para lá, e nós gravamos tudo, flagrante de todo mundo.

Voltamos ao Rio. A essa altura o caso de Diadema já tinha acontecido há mais ou menos um mês, e ainda estava pegando fogo, mas eu disse:
– Ah, vamos atropelar, que se dane. Vamos montar e entrar com a matéria.

Fui à CBF, falei com o Ivens Mendes, ele tremeu. O então presidente da Confederação, Ricardo Teixeira, me tratou de maneira bem arrogante, com empáfia, e eu, por dentro, rindo.

Anos depois eu riria de novo ao fazer uma matéria para a Rede Globo sobre a vida de Ricardo Teixeira, que, de quase falido, tornara-se milionário com o futebol. Um Globo

Repórter contaria a vida de lucros de Teixeira – e ele, depois do programa, foi internado às pressas porque sofreu um ataque cardíaco. Mas sobre isso ainda falaremos.

Ivens e Ricardo argumentaram que a fita não valia como prova, que eram grampos sem autorização da Justiça. Tentaram me processar, mas as provas eram tão contundentes, os vínculos eram tão fechados, que começaram a brotar mais cheques, mais informação e, na época, eles contrataram, inclusive, o grande jurista Miguel Reali Júnior, que, quando veio para cima de mim no tribunal da CBF, desistiu. Ninguém me processou, e o Ivens Mendes acabou destituído da Conaf. O Dualib, do Corinthians, foi suspenso por dois anos, e o Petraglia, eliminado do futebol.



Mas na vida é difícil alguém nos dar algo de graça. E depois eu saberia o motivo real das fitas: tinham sido feitas por um grupo ligado ao clube Fluminense, então rebaixado para a segunda divisão. Com os grampos e a confirmação da manipulação de jogos, o Atlético Paranaense seria vergonhosamente rebaixado, e o Fluminense continuaria – como continuou – na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.




Um comentário:

  1. Não sou íntimo do Mario Celso Petraglia, mas posso considerá-lo um amigo, com quem trabalhei por um tempo na Inepar. Compartilho esta mensagem e recomendo mesmo aos que não gostam do MCP que leiam por inteiro.

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