Era muito pequeno, deveria ter uns 6 ou 7 anos, para lembrar
que jogo era aquele que meu pai me levou pela primeira vez, mas lembro bem que
era do Atlético e era na velha Baixada.
Meu pai nunca me disse: "Seja Atleticano".
Ele era paulista, palmeirense daqueles ferrenhos e do tempo
do radinho de pilha, desembarcou em Curitiba no final da década de 60.
Em meio a uma confusão do time sendo rebaixado para a 2a
divisão do campeonato paranaense, não se importou muito com a fase do clube,
mesmo porque no ano seguinte, mais precisamente em 1968 o Atlético Paranaense,
pelas mãos de Jofre Cabral, montava um time de “galáticos”, com Djalma Santos,
Dorval, Bellini, Pepe e Zito, entre outros.
Mas não foram as vitórias ou as derrotas, nem títulos, e nem
os grandes times, que roubaram o coração do ferrenho palmeirense, foi algo
“sobrenatural” que sempre rondou o clube.
Conheci o futebol como paixão no inicio dos anos 80, em meio
a times com poderio mundial. O futebol brasileiro contava com as máximas
estrelas que o mundo do futebol internacional sonhava em possuir, Flamengo de
Zico, Santos de Serginho, Palmeiras de Leão, Vasco de Dinamite, o esquadrão São
Paulino, o Corinthians de Sócrates, o Internacional tri brasileiro de Falcão e
fiquei ali a beira do que via constantemente na tv, as bases da Seleção
Brasileira. E por uma coincidência dessas que só o esporte proporciona, quando
“conheci” o Atlético, estava o mesmo lutando contra a queda para a segundona.
Mas não, não foi nesse momento que me tornei um Atleticano
apaixonado.
Ouvia constantemente, naquele longínquo ano de 1981, os
jogos no mesmo rádio de pilha, e sempre antenado meu pai me perguntava como o
jogo estava, quem era melhor e dava seus “pitacos” de um comentarista meio sem
jeito.
As estrelas do time? Eram Nivaldo e Augusto. Sim tínhamos o
brilhantismo dos belos passes de Nivaldo e a raça e os petardos do Zagueiro
Augusto. O Atlético-MG tinha Éder, o Cruzeiro tinha Nelinho, o Flamengo tinha
Zico, nós tínhamos Augusto.
Meu primeiro grande jogo, aquele que fez o Atlético roubar
meu coração como torcedor, ocorreu em 27 de fevereiro de 1982, com mais de
57.000 torcedores no estádio Couto Pereira. Não tínhamos um grande time, mas
algo que poucos clubes possuíam, A RAÇA que marcou as gerações anteriores e que
construiu a tradição do Furacão.
Entrei naquele estádio em meio uma multidão calorosa de
Atleticanos Fanáticos. Os jornais paulistas davam como certa a vitória e mais
certa ainda que ela viria com uma goleada para os paulistas.
A única coisa que lembro daquele jogo, além da torcida, foi
o gol que arrebatou meu coração para o Furacão.
Uma falta pela direita do campo de ataque e Augusto, nosso
batedor de faltas oficial, saiu da zaga lentamente, e como um maestro
posicionou a bola quase no bico da grande área. Meu coração acelerou como nunca
antes em um lance, o nervosismo me tomou por completo, e pensei “Augusto,
ajude-me a ver essa torcida que só conheço pelo rádio”.
Em câmera lenta, Augusto correu e desferiu seu petardo tradicional,
vencendo a barreira e a meta São Paulina. Gol do Furacão! Gol do Furacão! Gol
do Furacão! Meu pai me abraçou e festejou comigo.
O radinho de pilha estava nas mãos e ouvidos do meu pai, mas
eu conseguia sentir, ouvir e imaginar ao mesmo tempo, o inesquecível Lombardi
Jr narrando: “A – tlé – ti – cooooooooooooooooolaço” e a musiquinha “É
golllll, que felicidade, é golllll o meu time é alegria da cidade”. “Alegria,
alegria, alegria do meu povão Rubro Negro, estremece esse gigante de cimento armado, braços erguidos aos
céus é o gol de Augusto para sacudir e levantar essa minha nação Rubro Negra.
Um tremular frenético de bandeiras, corações palpitando é o gol de Augusto
ecoando da garganta do meu povo Atleticano”.
Naquele momento pude entender o que significavam aquelas
palavras, era uma festa incondicional ensurdecedora, o hino cantado em alto e
bom som, uma alegria incontestável, 57000 pessoas vibrando, tremulando
bandeiras, a Fanática torcida do Atlético Paranaense numa festa incontida,
avassaladora e extravagante.
Após todo o êxtase do gol, lembro que virei para meu pai e
disse “eles disseram que iriam nos golear, mas eles não têm Augusto”.
Sai do estádio hipnotizado por completo.
Após aquele gol o jogo não mais me importava.
O resultado? Nem me importei, os paulistas viraram e
ganharam de 3x1, o que importava mesmo é que aquela torcida forjará mais um
Atleticano.
Aprendi com aquele gol de Augusto que um Atleticano não
nasce com uma vitória, ou com uma derrota, ou pela conquista de um título, um
Atleticano de verdade nasce pelas mãos de sua ruidosa torcida, pela paixão
dessa torcida, que transforma meninos em homens em um gol de lendários
“Augustos”, o “sobrenatural” Atleticano que te pega pelo coração e o faz ser
eternamente torcedor do amado Furacão, o Clube Atlético Paranaense.
Passei então a entender aquela frase que eu guardava em
forma de adesivo em meio a meus pertences de criança, “Atleticano de verdade,
mostra a sua força”.
Essa é minha homenagem a você meu PAI, um palmeirense
ferrenho que se apaixonou pelo Atlético e que sem querer me mostrou a qual
clube meu coração deveria pertencer. Por esses dias Deus te levou, mas deixou
lembranças e uma herança que jamais abandonarei, ser torcedor apaixonado do
Furacão, ser torcedor apaixonado do Atlético Paranaense.
E que lá pelos céus você possa vibrar com os próximos gols
“dos Augustos” que virão.
Fique com Deus, MEU PAI!
Obs:
(Essa coluna é uma homenagem ao meu pai falecido em 08 de
setembro de 2015 que me ensinou indiretamente a ser Atleticano e também uma
homenagem ao amigo Rafael Lemos que me ensinou indiretamente como transformar
as lembranças de um Atleticano em palavras.)
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