O ano era 2016: O Clube Atlético
Paranaense tinha anunciado a contratação de Lucho Gonzales, vindo, a princípio,
para suprir a necessidade que tínhamos de um armador experiente, que fizesse o
time jogar.
Apesar de não estar, àquela
época, fazendo um excelente campeonato argentino, o estrangeiro chegava com
status de estrela. Campeão Olímpico, campeão da Libertadores e com passagens
significativas por grandes times europeus. Finalmente, o clamor da torcida por
um jogador “de peso” e com a experiência que o campeonato brasileiro exigia, tinha
sido atendido.
Sem qualquer período significativo
de adaptação, Lucho estreou com a camisa do Atlético, jogando na posição para
que tinha sido contratado – e não na posição onde tinha adquirido sucesso.
Tratava-se, pois, de um desastre
anunciado e, assim, o argentino não agradou em nada a exigente torcida
atleticana. Não se sabe, ao certo, se Lucho mereceu todas as críticas, mas, o
fato é que nos corredores da nossa Arena, lembro-me bem, ouviam-se sussurros maldosos
sobre a atuação da nova estrela do time.
Não serei hipócrita de dizer que
nunca o critiquei, mas, ao mesmo tempo em que observei suas falhas, tive a
condescendência de analisar suas qualidades. Lucho, desde o primeiro jogo, me
pareceu um jogador esforçado. Percebi que ele, mesmo que não fosse sua função
naquele momento (vamos nos lembrar de que ele veio para ser o armador do time),
mostrou um talento nato para marcação que me chamou a atenção.
Apesar da idade avançada para um
jogador de futebol, fazia questão de marcar a saída de bola do adversário
(função que considero essencial em um time de futebol que queira manter a posse
de bola), além de ser um excelente perseguidor e fazer desarmes extremamente
pertinentes. Ouso dizer que Hernani e Otávio nos foram tão preciosos na
temporada passada por terem o argentino ao seu lado, à medida que era sempre
ele o primeiro homem a pressionar a defesa dos times que jogavam contra nós,
facilitando, assim, o trabalho dos nossos volantes marcadores.
Infelizmente, a minha capacidade
em enxergar o lado bom de tudo não parece ser inerente à torcida rubro-negra.
Os que o consideravam uma estrela, agora o classificavam como uma estrela
cadente, em queda livre, puxando o time para baixo. Um jogador que errava passes
demais, era velho demais e que estava sendo apontado como um dos elos mais
fracos do time. Lucho passou de foco de esperança, para culpado de todos os
nossos defeitos ofensivos.
O ano de 2017 finalmente chegou
trazendo consigo a almejada vaga na (pré) Libertadores. Apesar disso, os comentários
nos porões do Facebook exigiam a demissão de Lucho Gonzales e eu, secretamente,
torcia fervorosamente para que ele permanecesse. Graças aos Deuses do futebol,
Paulo Autuori não é o técnico que dá ouvidos à torcida e muito menos assim são
Mario Celso Petraglia e Sallim Emed.
A camisa 3 continuaria a ter o
mesmo dono, que agora não carregaria mais o peso de ser o armador do time, mas
jogaria em sua função de origem, como segundo volante.
Enquanto a maioria chorava a
ausência de Hernani, eu ficava cada vez mais otimista. Lucho finalmente jogaria
onde sabia jogar, e com a chegada de Felipe Gedoz e Carlos Alberto, não teria
que ser deslocado para a função de “camisa 10”. Mesmo com tais novidades, a torcida
atleticana ainda não o tinha considerado digno de receber um voto de confiança.
Finalmente o torneio mais
importante do ano começou. Enquanto os pessimistas não acreditavam que seríamos
capazes de nos classificarmos, um herói improvável ascendeu para carimbar o
nosso passaporte em direção à fase de grupos: o criticado Lucho Gonzales.
Quisera o destino que o argentino
florescesse justamente quando mais precisávamos de sua experiência. Quase que como
uma ironia, um castigo dos deuses do futebol aos que deixaram de acreditar cedo
demais, o argentino passou de peso morto para ser o nosso jogador mais importante
durante a pré-libertadores e durante o começo da fase de grupos.
Jogando em sua posição de origem,
liderou o time com sua experiência, sua persistência e seu talento. Tornou-se o
artilheiro do time no torneio, líder em desarmes, e um dos líderes em
finalizações ao gol. Deu-nos a classificação para a fase de grupos e foi um dos
responsáveis pela vitória importantíssima contra o San Lorenzo: três pontos que
mantiveram vivo o sonho da Libertadores, após o empate com a Universidad
Católica do Chile.
Não me entendam mal, não estou
falando que trata-se de um jogador perfeito.
Lucho tem seus defeitos, alguns
de gravidade considerável. Ainda peca quando erra passes relativamente fáceis
ou quando toma decisões que não são as melhores dentro da partida, mas, não se
pode negar que só estamos onde estamos por termos tido sua ajuda. O argentino
se tornou (sempre foi) peça tática essencial ao time, sendo um dos pilares
defensivos que sustentam a nossa tão aclamada defesa. Não é mais foco de
esperança, e sim de confiança. Após tanto sofrimento e tantos jogos difíceis,
sinto que testemunhei algo inédito na natureza: a ascensão de uma estrela
cadente.
Parabéns Seja bem vinda ao blog começou muito bem e o lucho vai nos ajudar muito esse ano
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