segunda-feira, 20 de março de 2017

Por Fernanda Oliveira: A ascensão de uma estrela cadente.



O ano era 2016: O Clube Atlético Paranaense tinha anunciado a contratação de Lucho Gonzales, vindo, a princípio, para suprir a necessidade que tínhamos de um armador experiente, que fizesse o time jogar.


Apesar de não estar, àquela época, fazendo um excelente campeonato argentino, o estrangeiro chegava com status de estrela. Campeão Olímpico, campeão da Libertadores e com passagens significativas por grandes times europeus. Finalmente, o clamor da torcida por um jogador “de peso” e com a experiência que o campeonato brasileiro exigia, tinha sido atendido. 


Sem qualquer período significativo de adaptação, Lucho estreou com a camisa do Atlético, jogando na posição para que tinha sido contratado – e não na posição onde tinha adquirido sucesso. 


Tratava-se, pois, de um desastre anunciado e, assim, o argentino não agradou em nada a exigente torcida atleticana. Não se sabe, ao certo, se Lucho mereceu todas as críticas, mas, o fato é que nos corredores da nossa Arena, lembro-me bem, ouviam-se sussurros maldosos sobre a atuação da nova estrela do time. 


Não serei hipócrita de dizer que nunca o critiquei, mas, ao mesmo tempo em que observei suas falhas, tive a condescendência de analisar suas qualidades. Lucho, desde o primeiro jogo, me pareceu um jogador esforçado. Percebi que ele, mesmo que não fosse sua função naquele momento (vamos nos lembrar de que ele veio para ser o armador do time), mostrou um talento nato para marcação que me chamou a atenção. 


Apesar da idade avançada para um jogador de futebol, fazia questão de marcar a saída de bola do adversário (função que considero essencial em um time de futebol que queira manter a posse de bola), além de ser um excelente perseguidor e fazer desarmes extremamente pertinentes. Ouso dizer que Hernani e Otávio nos foram tão preciosos na temporada passada por terem o argentino ao seu lado, à medida que era sempre ele o primeiro homem a pressionar a defesa dos times que jogavam contra nós, facilitando, assim, o trabalho dos nossos volantes marcadores.


Infelizmente, a minha capacidade em enxergar o lado bom de tudo não parece ser inerente à torcida rubro-negra. Os que o consideravam uma estrela, agora o classificavam como uma estrela cadente, em queda livre, puxando o time para baixo. Um jogador que errava passes demais, era velho demais e que estava sendo apontado como um dos elos mais fracos do time. Lucho passou de foco de esperança, para culpado de todos os nossos defeitos ofensivos. 


O ano de 2017 finalmente chegou trazendo consigo a almejada vaga na (pré) Libertadores. Apesar disso, os comentários nos porões do Facebook exigiam a demissão de Lucho Gonzales e eu, secretamente, torcia fervorosamente para que ele permanecesse. Graças aos Deuses do futebol, Paulo Autuori não é o técnico que dá ouvidos à torcida e muito menos assim são Mario Celso Petraglia e Sallim Emed.


A camisa 3 continuaria a ter o mesmo dono, que agora não carregaria mais o peso de ser o armador do time, mas jogaria em sua função de origem, como segundo volante. 


Enquanto a maioria chorava a ausência de Hernani, eu ficava cada vez mais otimista. Lucho finalmente jogaria onde sabia jogar, e com a chegada de Felipe Gedoz e Carlos Alberto, não teria que ser deslocado para a função de “camisa 10”. Mesmo com tais novidades, a torcida atleticana ainda não o tinha considerado digno de receber um voto de confiança. 


Finalmente o torneio mais importante do ano começou. Enquanto os pessimistas não acreditavam que seríamos capazes de nos classificarmos, um herói improvável ascendeu para carimbar o nosso passaporte em direção à fase de grupos: o criticado Lucho Gonzales.


Quisera o destino que o argentino florescesse justamente quando mais precisávamos de sua experiência. Quase que como uma ironia, um castigo dos deuses do futebol aos que deixaram de acreditar cedo demais, o argentino passou de peso morto para ser o nosso jogador mais importante durante a pré-libertadores e durante o começo da fase de grupos. 


Jogando em sua posição de origem, liderou o time com sua experiência, sua persistência e seu talento. Tornou-se o artilheiro do time no torneio, líder em desarmes, e um dos líderes em finalizações ao gol. Deu-nos a classificação para a fase de grupos e foi um dos responsáveis pela vitória importantíssima contra o San Lorenzo: três pontos que mantiveram vivo o sonho da Libertadores, após o empate com a Universidad Católica do Chile.


Não me entendam mal, não estou falando que trata-se de um jogador perfeito.


Lucho tem seus defeitos, alguns de gravidade considerável. Ainda peca quando erra passes relativamente fáceis ou quando toma decisões que não são as melhores dentro da partida, mas, não se pode negar que só estamos onde estamos por termos tido sua ajuda. O argentino se tornou (sempre foi) peça tática essencial ao time, sendo um dos pilares defensivos que sustentam a nossa tão aclamada defesa. Não é mais foco de esperança, e sim de confiança. Após tanto sofrimento e tantos jogos difíceis, sinto que testemunhei algo inédito na natureza: a ascensão de uma estrela cadente.



Um comentário:

  1. Parabéns Seja bem vinda ao blog começou muito bem e o lucho vai nos ajudar muito esse ano

    ResponderExcluir