terça-feira, 18 de abril de 2017

CUIDEM BEM DO SEU GIGANTE

É engraçado como, no Brasil, temos o poder de dar às coisas nomes próprios inexistentes. 

Aqui, achocolatado em pó se tornou Nescau, hastes flexíveis são conhecidas por Cotonete, lâminas de barbear, em terras tupiniquins, são chamadas de Gilette, e por aí vai. São variadas as substituições encontradas no linguajar verde e amarelo.

Nesta esteira, o Estádio Jornalista Mário Filho, por exemplo, é conhecido por vários nomes, menos o seu. Maracanã, Templo do Futebol, Patrimônio Histórico, Gigante do Futebol, o Maior do Mundo, ou, para os mais íntimos, Maraca. 

Construído para a Copa do Mundo de 1950, o concreto que dá forma a este gigante presenciou um de nossos primeiros momentos de tristeza, o famoso Maracanazzo. Na terra que dá suporte a este monstro sagrado do esporte bretão, já pisaram Zico, Washington, Assis, Pelé, Garrincha, Zagallo e outros inúmeros jogadores do mesmo tamanho, senão maiores, que ele. 

Pessoalmente, tenho uma história de grande afeto pelo Maraca, apesar da lembrança que tenho dele ser agridoce. Amarga pela derrota do Furacão, doce pelo fardo histórico que presenciei. 

A primeira e única vez que fui até o Maracanã, foi para assistir a final da Copa do Brasil de 2013. Lembro-me, como se fosse hoje, da sensação que tive quando meus pés ultrapassaram o portão de entrada: quando ergui meus olhos, vi aquela imensidão à minha frente e, sem resistir, sucumbi. Fui sufocada pela História que tirou o ar dos meus pulmões e me deixou estarrecida. Meus olhos não sabiam para onde olhar, se para as arquibancadas, se para o gramado, ou então pra qualquer canto que achasse pertinente, afinal de contas, todos os cantos daquele Estádio exalavam contos e causos que meu pai me contava desde pequena. Eu estava no Maracanã, e lá, meus amigos, até o ar que se respira é diferente. 

Pois bem, trazendo esta crônica para os dias atuais, contando com o misticismo deste templo, o Clube de Regatas do Flamengo normalmente manda seus jogos importantes no Maracanã. Como não podia ser diferente, decidiu mandar lá o jogo contra o Atlético, pela Taça Libertadores da América, contando com a lotação total de lugares por sua imensa torcida, e torcendo para que, assim, ocasionasse uma pressão ainda maior nos jogadores do Rubro-Negro de Curitiba. 

De fato, talvez a tática tenha dado certo. 

Quem assistiu os primeiros 15 minutos daquele jogo deve ter tido a impressão de que fomos engolidos vivos pelos cariocas. Concordo que o time tenha sido engolido, entretanto, na minha concepção, quem o mastigou foi o Maracanã, e não o Flamengo. Assim como eu, parecia que aquele estádio tinha tirado o ar dos pulmões de quase todos os jogadores do Furacão. 

Digo de quase todos, porque a um deles parece que o efeito foi justamente o contrário: Matheus Rossetto. 

Modéstia à parte me considero bastante apta para escrever e avaliar o trabalho do Rossetto, haja vista que o acompanho desde seus jogos pela base do Atlético e também acompanhei sua passagem pela Ferroviária de São Paulo. Apesar de tudo isso, há que se falar que, dada a lógica, pela sua pouca idade e, se comparado ao restante do elenco, deveria tratar-se de um jogador que sentiria a pressão deste jogo em um nível elevado. 

Ledo engano. 

No jogo pela Libertadores, Rossetto, como um pai experiente, tomou conta do meio-campo do Atlético que, muito preocupantemente, não contava com Otávio, nossa fortaleza. Com a sabedoria de um idoso, nos momentos em que faltava ar aos deslumbrados jogadores do Furacão, colocou a bola no chão, com calma e parcimônia. 

E, mesmo eu, que sempre soube de seu potencial, fiquei surpresa com a experiência demonstrada por ele naquele jogo. E ainda, mesmo ele demonstrando que está pronto para ser titular deste time, continuo, a cada jogo, me impressionando com o seu gigante talento. 

O gigante carioca, como bem disse Paulo Autuori, está maltratado. Mas, mesmo assim, o seu peso ainda é enorme. Peso este que parece não ter tido influência em Rossetto, e isso é deveras impressionante. Alguns podem entender não ser nada de mais, mas, pessoalmente, eu considero que tal atitude é exclusiva apenas aos iluminados. 

Ao mesmo tempo em que torço para que os cariocas cuidem do gigante deles, rezo silenciosamente para que cuidemos com o maior zelo possível do nosso. Afinal de contas, é preciso ser um gigante se não quiseres ter medo de outro... E é isso que tu és, Rossetto. Um talento gigante.


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