quarta-feira, 26 de abril de 2017

Teste de DNA


O ano é 2004. Ano do vice-campeonato brasileiro, deveras um ano dolorido para a torcida atleticana. 

Neste ano, contra o São Caetano, na Arena da Baixada, vi o que considero um dos gols mais bonitos da história do Atlético Paranaense. Assim narrou Cleber Machado, naquela oportunidade:

Gira bem Fernandinho, Jadson escapa lá pela direita, lá vem em velocidade o Atlético, de Jadson para Washington, tem pela esquerda o Denis, pela meia o Fernandinho, daí pro Denis, olha a chance do gol! Gol! E um golaço! Denis Marques! Do Atlético! Um show de toque de bola, de movimentação, de entrosamento, de companheirismo, visão de jogo, até o toque de primeira de Denis Marques! Pro fundo do gol do São Caetano! Fernandinho, Jadson, Fernandinho, Washington, Fernandinho, Denis! Bola pro fundo do gol! Denis Marques, camisa 11!”

Ao ler esta narrativa, vocês devem ter lembrado como foi este gol. Assim como eu, devem ter fechado os olhos, relembrando o toque de bola rápido do time, que contava com Jadson e Fernandinho “voando”. Foi um gol com a cara do Furacão: envolvente, rápido, uma verdadeira aula de contra-ataque. 

O time de 2004 não tinha posse de bola, mas tinha um contra-ataque mortal. Não é a toa que foi vice-campeão brasileiro daquele ano. Analisando profundamente a história, nós nunca fomos o time da posse de bola, sempre fomos o time do contra-ataque. Está no nosso DNA. 

Treze anos depois, em 2017, temos um time que não tem contra-ataque, mas tem a posse de bola. Reflexão de um pensamento moderno no mundo do futebol, em que o toque de bola paciente, sem dar chances para o adversário, é almejado por quase todos os clubes do mundo. 

Pessoalmente, eu não gosto deste estilo de jogo. Sempre vi o futebol de forma muito simples: o que conta é sempre a bola na rede. É um esporte injusto, onde nem sempre o melhor vence e, talvez por isso, seja o esporte mais popular do Planeta Terra. Compreendo que a posse de bola, as táticas, enfim, todas as nuances do esporte contam, e muito, para o sucesso. Mas, no fim, o que importa é a bola na rede. 

Apesar disso, atualmente sou voto vencido nas mesas redondas em que se discutem o futebol. Para quase todos, a posse de bola deve ser altamente valorizada, pois, é como dizem por aí: antes a bola com o seu time do que com o time adversário. 

Por ser uma voz solitária em meio à multidão, já tinha desistido de tentar convencer a todos que posse de bola não é tudo em um jogo de futebol, quando, após as rodadas de quartas de final da Champions League, uma matéria do site Trivela me chamou a atenção. A reportagem trazia a seguinte manchete: “Champions League teve os times de mais posse de bola eliminados nas quartas de final”.

E foi exatamente neste momento que o time de 2004 me veio à cabeça.

Lembrei que, naquele ano, a posse de bola era um mero detalhe, o que contava mesmo eram a verticalidade e a objetividade dos nossos atacantes. Pus-me então a refletir sobre o time deste ano, e passei a comparar o que temos hoje com o que tínhamos no passado. 

Apesar de ser uma defensora inabalável do trabalho de Paulo Autuori, existe algo que me incomoda no time deste ano: a importância exagerada dada à posse de bola e a negligência à objetividade. 

Em que pese a filosofia deste ano ser a mesma do ano passado, em que tivemos campanhas excelentes em todos os campeonatos que disputamos, em 2016 tínhamos Evandro, no começo do ano, e Lucas Fernandes, no decorrer da temporada. Ou seja, apesar de não serem expressão do estilo de jogo daquele time, eram jogadores que se tornaram a nossa válvula de escape, únicos que tinham a capacidade de puxar um contra ataque, como manda o DNA Atleticano, preconizados em 2004 por Jadson e Fernandinho.

Talvez eu esteja sendo saudosista. Pode ser, ainda, que eu tenha uma visão ultrapassada do futebol. Não ficaria ofendida se me dissessem isso... O fato é que, ultrapassada ou não, a manchete do site Trivela acendeu uma ponta de esperança em mim. Em um mundo em que o toque de bola sem objetivo, especialmente quando se obtém algum tipo de vantagem no jogo, onde não se aprecia a arte do contra-ataque como eu aprecio, surpreendentemente, os times que não dão tanta prioridade à posse de bola estão se sobressaindo. 

Tal estatística é motivo sério para reflexão no CT do Caju. Quem sabe seja a hora de mostrar um certo gol de Denis Marques à comissão técnica do Clube Atlético Paranaense? Ou então, creio que precisaremos fazer um teste de DNA no time de 2017.




Um comentário:

  1. CONCORDO NOSSO DNA E DE CONTRA ATAQUE MAIS COM O AUTUO RI NÃO VAI MUDAR MAIS ELE E UM ÓTIMO TREINADOR

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